terça-feira, 13 de janeiro de 2009

VER PARA CRER - Historinhas da Sabedoria de Buda.

'Portal de Hórus'
Desvelando os Mistérios
VER PARA CRER - Historinhas da Sabedoria de Buda.
[Ache o Buda (Tela de Odilon Redon).1904]


'Os rótulos não devem condicionar a mente'.
"Que importância tem um nome? O que chamamos uma rosa, se tivesse outro nome, continuaria com o mesmo perfume". (Shakespeare).


Certa vez, monges brâmanes perguntaram à Soma, discípula de Buda: - "Se a condição de sábio é dificilmente alcançada por um homem, como pode a mulher atingir tal estado com sua mente limitada?"


- "Quando o coração está completamente tranqüilo, quando a consciência se alarga [se amplia], vê-se então a realidade; mas logo que pensam: 'sou mulher', ou 'sou homem', ou 'sou isso ou aquilo' - então a ilusão (Maya) se apodera dos seres". Sangitta-Nikaya c.1. ('Budismo - Psicologia do Autoconhecimento', p. 29).
A Verdade não tem rótulos. Ela não é budista, judaica, cristã, hindu ou muçulmana; nem é monopólio de quem quer que seja. Estes e outros rótulos sectários são obstáculos à percepção e à Compreensão da Verdade...
Estamos condicionados de tal modo a rótulos discriminativos que, ao depararmos com outro ser humano, logo o rotulamos de inglês, alemão, japonês, judeu, branco ou preto, católico, protestante, budista, etc. E o julgamos segundo os preconceitos e atributos condicionados em nossa mente; mas não raro acontece que o indivíduo está isento dos atributos que lhe conferimos...

O ensino de Gautama Buda [Budh, despertar, iluminar; Gau, terra; tama, o mais vitorioso], está repleto do espírito de completa tolerância, extensiva a todos os seres vivos. Defendia a igualdade de castas e a emancipação da mulher; afirmava que ela pode alcançar o grau superior de conhecimento, do mesmo modo que o homem, pois a "libertação transcende as formas e, por conseguinte, não depende do sexo"...



Assim como aconteceu com Jesus, nem sempre a vida do Buda correu em meio ao reconhecimento e a tranqüilidade... Existem dados que mostram obstáculos e calúnias que, como verdadeiro guerreiro [da Luz], ele enfrentava no meio de ascetas e brâmanes.

Buda dizia aos ascetas: “Se o homem, apenas pela recusa do alimento ou condições físicas desfavoráveis, pudesse conseguir libertar-se dos grilhões que o prendem à terra, o cavalo e a vaca já teriam atingido isso há muito tempo”...
E para os brâmanes: "Pelo que faz um homem ele é um sudra (casta inferior), ou da mesma forma é um brahmana (casta superior, sacerdotal). O fogo aceso pelo brâmane, ou pelo sudra, tem a mesma chama, calor e luz".
"Vigoroso e alerta, tal é o discípulo, ó irmão. Seguindo o Caminho do Meio, suas energias são equilibradas; nem é ardente sem medida, nem dado à intolerância"... Para quem busca a Verdade, é menos importante saber "se o ensinamento provém deste ou daquele mestre; o essencial é vê-la e compreendê-la"...

No Budismo não há dogmas... Para libertarmo-nos da dúvida é necessário ver claramente, "o que só é possível quando a Verdade vem através da visão interior, adquirida pelo autoconhecimento". ('Budismo: Psicologia do Autoconhecimento', p. 21/22. Pensamento. 1999].
Nota: 'Buda' [Do sânscrito, Budh), significa literalmente: 'Desperto', 'Supremo Iluminado': "Aquele que está liberto do sono da ignorância e inundado de Suprema Sabedoria". O termo Buda, portanto, pode designar qualquer pessoa que alcançou o estado de ser búdico. [®]

(Campos de Raphael)
HISTORINHAS DE BUDA


Certa vez, um grupo de sábios brâmanes foi visitar Gautama Buda, com o qual teve uma longa conversa. Então um jovem brâmane, chamado Kapatika, perguntou ao Mestre:

- Venerável Gautama, as antigas e santas escrituras dos brâmanes foram transmitidas de geração em geração, mediante uma ininterrupta tradição verbal, através da qual os brâmanes chegaram à conclusão absoluta de que a única verdade seria a deles e qualquer outra seria falsa.



Ouvindo isto, Buda perguntou: - 'Entre os brâmanes haverá um só indivíduo que pretenda pessoalmente saber e ter visto, por própria experiência, que esta é a única verdade e qualquer outra é falsa?'

- “Não, Senhor” - respondeu o jovem monge com toda a franqueza.
- 'Então, haverá um só instrutor, ou instrutor dos instrutores dos brâmanes, anterior à sétima geração,. ou ao menos um dos autores destas escrituras, que pretenda saber e ter visto, pela própria experiência, que é a única verdade e qualquer outra é falsa?'



- Não, Senhor! - disse o monge.

- "Então, é como uma fila de homens cegos; cada um se apoiando no precedente: o primeiro não vê, o do meio não vê e o último não vê tampouco. Por conseguinte, parece-me que a condição dos brâmanes é semelhante a esta fila de homens cegos".

Nesta ocasião, ele deu a esse grupo de brâmanes um ensinamento de extrema importância:

- “Um homem que sustenta a verdade deve dizer: 'esta é a minha crença', mas nem por causa disto ele deve tirar a conclusão absoluta e dizer: "Só há esta verdade, qualquer outra é falsa”. – Canki Sutta 95, Majjhima-Nikaya. (‘Budismo: Psicologia do Autoconhecimento’, p. 25).

2. 'Da Auto-responsabilidade em Aceitar as Coisas'

Certa vez, Gautama Buda visitou uma pequena vila chamada Kesaputra, no reino de Kosala, cujos habitantes se chamavam Kalamas. E eles lhe fizeram a seguinte pergunta:


- “Senhor, alguns anacoretas [ascetas peregrinos] e brâmanes que passaram por nossa vila divulgaram e exaltaram as suas doutrinas e condenaram e desprezaram as doutrinas dos outros... Passaram outros que, por sua vez, divulgaram e exaltaram as suas doutrinas e também condenaram e desprezaram as doutrinas dos outros. Mas nós, Senhor, estamos sempre em dúvida e perplexos, sem saber qual desses veneráveis expôs a verdade e qual deles mentiu”.

Então o Buda respondeu: - Sim, é justa a dúvida que sentis, pois ela se originou de um assunto duvidoso. Agora prestem atenção:


"Não vos deixeis guiar pelas palavras dos outros, nem por tradições existentes, nem por rumores. Não vos deixeis guiar pela autoridade dos textos religiosos, nem por simples lógica ou dedução, nem por aparências, nem pelo prazer da especulação sobre opiniões, nem por verossimilhanças possíveis, nem por simples impressão ou pela idéia: Ele é nosso mestre”.

Mas, Kalamas, desde que souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são desfavoráveis, falsas e ruins, então renunciai a elas… e quando souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são favoráveis e boas, então deveis aceitá-las e segui-las”... [Gautama, significa: "o mais vitorioso na terra"; Siddhartha (sânscrito), ou Sidarta, significa: "realização de todos os deuses"].

E, dirigindo-se aos bhikkhus [monges discípulos], disse:
- “Um discípulo deve examinar a questão mesmo quando o Tathagata ("Aquele que alcançou a verdade": Tatha, verdade; agata: alcançar) a propõe, pois o discípulo deve estar inteiramente convencido do valor real do seu ensinamento. Não acreditem no que o mestre diz simplesmente por respeito à personalidade dele”. (Kalama Sutra, Anguttara-Nikaya III, 65). - [Cf. ‘Budismo: Psicologia do Autoconhecimento’, p.23. Ed. Pensamento. 1999]
3. ‘Compaixão Para Com Todos os Seres Vivos’
“E aquilo que fizerdes ao menor destes meus filhos, a mim o fazeis. Pois eu estou neles, e eles em mim. Sim, estou em todas as criaturas, e todas as criaturas estão em mim. Alegro-me em todas as suas alegrias, e aflijo-me em todas as suas tribulações”. (Jesus). [Ver: ‘Jesus Condenava Maltratar os Animais' - 'O Evangelho dos Doze Santos’].


Certa vez o Mestre [Buda] observava um rebanho de carneiros que avançava lentamente conduzido pelos pastores. Chamou-lhe a atenção uma ovelha com dois cordeirinhos, sendo que um deles, ferido, caminhava penosamente. Buda tomou o cordeirinho ferido em seus braços e exclamou:

- “Pobre mãe, tranqüiliza-te. Para onde fores, levarei teu querido filhote”. - E pensou: “É preferível impedir que sofra um animal, a permanecer sentado nas cavernas contemplando os males do universo”.
Sabendo pelos pastores que, por ordem do rei, o rebanho seria levado, à noite, para o sacrifício e imolado em honra aos deuses, Buda falou:
- “Quero ir convosco”. - E os seguiu pacientemente, carregando o cordeirinho nos braços.

Chegando à sala dos holocaustos, observou os brâmanes recitando mantras [palavras e frases de poder sagrado no Hinduísmo], e avivando o fogo que crepitava no altar. Um dos sacerdotes, apoiando a faca no pescoço estirado de uma cabra de grandes chifres, exclamou:

- Eis aí, ó deuses, o princípio dos holocaustos oferecidos pelo rei Bimbisara. Regozijai-vos vendo correr o sangue e gozai com a fumaça da carne tostada nas chamas ardentes; fazei com que os pecados do rei sejam transferidos a esta cabra e o fogo os consuma ao queimá-la; vou dar o golpe fatal.


Aproximando-se, Buda disse docemente: - "Não a deixeis ferir, ó grande rei!" - E ao mesmo tempo desatou os laços da vítima, sem que ninguém o detivesse, tão imponente era seu aspecto.

Então, depois de haver pedido permissão, Buda falou da vida que todos podem tirar, mas ninguém pode dar; da vida que todas as criaturas amam e pela qual lutam; a vida esse dom maravilhoso
e caro a todos, mesmo aos mais humildes; um dom precioso para todas as criaturas que sentem compaixão, porque a compaixão faz o homem doce para com os débeis e nobre para com os fortes.


Emprestou às bocas do seu rebanho palavras enternecedoras para defender sua causa; demonstrou que o homem que implora a clemência dos deuses não tem misericórdia, ele que é como um deus para os animais; fez ver que tudo o que tem vida está unido por um laço de parentesco; que os animais que matamos nos deram o doce tributo do seu leite e de sua lã e colocaram sua confiança nas mãos dos que os degolam. E acrescentou:

- “Ninguém pode purificar com sangue sua mente; se os deuses são bons, não podem comprazer-se com o sangue derramado; se são maus, não podem lançar sobre um pobre animal amarrado o peso de um cabelo dos pecados e erros pelos quais [o homem] deve responder pessoalmente. Cada um deve dar conta de si mesmo, segundo a aritmética invariável do universo, dando a cada um sua medida segundo seus atos, suas palavras e seus pensamentos. Esta lei exata, implacável e imutável vigia eternamente e faz com que todos os futuros sejam frutos do passado”...

Falou assim, com palavras tão compassivas e tal dignidade, inspirado pela compaixão e justiça, que os sacerdotes se despojaram dos seus ornamentos e lavaram as mãos vermelhas de sangue. E o rei, aproximando-se de Buda, o saudou com as mãos juntas”. (‘Luz da Ásia’, tradução de Edwin Arnold. Pensamento). [®]

"Como o eco pertence ao som e a sombra à substância, assim o mal recairá sobre quem o causou; abstém-te, pois de atos maus!". (Buda).
[Cf.‘Budismo: Psicologia do Autoconhecimento’, p.25/28. Dr. Georges da Silva & Rita Homenko – Editora Pensamento. 1999].
Luz, Amor e Paz! (Campos de Raphael)